DEVOÇÃO

segunda-feira, 22 de abril de 2019

ESTUDO

COMO AJUDAR 
 ALGUÉM QUE  ESTA  SOFRENDO

Sofrimentos nessa vida terrena não deveriam nos surpreender. O próprio Jesus ensinou que no mundo teremos aflições (João 16.33) e ao abordar esse assunto Pedro exortou seus leitores: “não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pe 4.12). Portanto, o sofrimento é uma realidade que pode nos visitar a qualquer momentoe de variadas formas: uma enfermidade incurável, a perda de um ente querido, a crise financeira, a solidão e muitas outras coisas podem roubar o ânimo e a alegria do coração de alguém. A aflição também é democrática e não faz acepção de pessoas: ricos e pobres, velhos e jovens, homens e mulheres, e assim por diante. Nesse mundo caído todos sofrem.

A Bíblia exorta o cristão a se compadecer daqueles que sofrem e “chorar com os que choram” (Rm 12.15). Todavia, nem todos sabem o que fazer e esse desconhecimento acaba inibindo a iniciativa que poderiam tomar em prol do cuidado com o aflito. O medo de atrapalhar, mais do que ajudar, acaba fazendo com que as pessoas se afastem nos momentos mais necessários para aqueles que estão sofrendo.

A história bíblica de Jó pode ajudar muito nesse sentido. A situação de Jó não era punitiva, mas instrutiva. Deus permitiu que ele sofresse porque sabia que aquele seu servo não blasfemaria e sua atitude seria pedagógica para os servos de Deus em todas as épocas (cf. Tg 5.11). Além das lições sobre perseverança pessoal no sofrimento, a história de Jó também possui princípios sobre como podemos ajudar os que enfrentam angústias. Os erros dos amigos de Jó são especialmente elucidativos a esse respeito. Por isso, procuro ressaltar uma lição básica que será apresentada de quatro ângulos para nossa consideração.
Se disponha a estar presente e ouvir. Quando a notícia do sofrimento de Jó se espalhou, três dos seus amigos se mobilizaram para ir a ele para confortá-lo (cf. Jó 2.11). O companheirismo e compaixão daqueles homens a ponto de deixarem suas atividades para atender Jó em sua aflição foram atitudes louváveis. A dor, a enfermidade e o sofrimento acabam isolando o aflito do convívio social e, portanto, a disposição de se fazer presente com ele em sua angústia é terapêutica. O problema dos amigos de Jó, porém, começou quando começaram a falar e debater com ele, tentando convencê-lo de seus pecados. Sem compreenderem o que estava acontecendo, tentaram “corrigir a teologia” de Jó e acabaram agravando a sua dor. Logo, se queremos ajudar o aflito, precisamos nos colocar próximos a ele e aprender a ouvir. O coração dolorido necessita de ouvidos misericordiosos para que possa compartilhar sua dor.
Se disponha a conviver com o desconfortável. A solidariedade dos amigos de Jó foi louvável, pois depois de terem viajado longa distância e chorado a condição do amigo, ainda se sentaram com ele durante sete dias e sete noites (cf. Jó 2.11-13). A situação, porém, mudou quando se sentiram incomodados com os lamentos do amigo em aflição. Diante daquilo Elifaz protestou: “Quem poderá conter as palavras?” (Jó 4.1). Em outras palavras, eles não conseguiram conviver com o desconfortável. É possível que, enquanto assistirmos alguém em aflição, encontremos muitas coisas que necessitam ser mudadas e isso gera desconforto. A tentação será tentar mudar tudo imediatamente, mas toda mudança toma tempo e nem sempre ela será operada por nós. A inquietude diante do desconfortável acaba perturbando mais do que ajudando.
Lembre-se que você não possui todas as respostas. Um coração angustiado produz perguntas: Por que isso está acontecendo? Por que comigo? Por que justo agora? Até quando, Senhor? etc. Um dos problemas de quem oferece ajuda é tentar responder a todas indagações. Quando isso acontece, a ajuda se transforma em debate e amigos acabam se distanciando nos momentos em que a proximidade seria um dos principais ingredientes da ajuda. Isso parece ter sido o que ocorreu com os amigos de Jó. Eles simplesmente queriam responder a cada questionamento daquele coração aflito. Ao final, Jó acabou definindo-os como “consoladores molestos”, ou seja, “consoladores que só aumentam meu sofrimento” (cf. Jó 16.2). De fato, se queremos auxiliar alguém, precisamos, ainda que momentaneamente, abrir mão de nossa “precisão matemática” e nos tornarmos mais maleáveis e flexíveis. Podemos até perder um argumento, mas ganhar um irmão.
Disponha-se a “fazer algo”, antes de “dizer algo”. Um conhecido ditado insiste: “o que fazes grita tão alto, que já não posso ouvir a tua voz”. A mensagem central desse dito é que o efeito das ações é mais impactante do que o das meras palavras. Interessante observar que enquanto os amigos de Jó apenas o acompanhavam (tomaram a iniciativa para estarem com ele e se assentaram ao lado do amigo aflito), eles acertaram em não causar nenhum mal-estar no aflito. Quando passaram a falar, porém, tropeçaram nas próprias palavras e acusaram injustamente a quem eles deveriam socorrer.

Muitas vezes não sabemos como ajudar alguém em aflição, mas podemos fazer coisas simples, como uma visita, levar um prato de alimento para aqueles que sofrem, ajudar por meio de uma oferta financeira, sentar e orar com a pessoa e assim por diante. Gestos de amor são medicinais para um coração ferido.

Como você já deve ter observado, cada maneira ressaltada acima para ajudar alguém que sofre pode ser resumida pela expressão “fazer mais e falar menos”. Nossas palavras não devem ser desprezadas, mas o livro de Jó indica que o amor concretizado em ações é um bálsamo sobre a ferida aberta pelas diferentes faces do sofrimento. Que o Senhor nos abençoe e ajude a crescer em prol dessa prática!

Pr. Valdeci


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